quinta-feira, julho 22, 2004


Memória

Escolhi para hoje o tempo de teu riso solto,
Quase herege, sigiloso.
Com ele me alimentei de flores e bênçãos,
Atrás de cinco luas singrei a rua
Prateada e branca, sacerdotisa.

No retorno temporão do sol teu sapato já não servia.
Escolhi então teu tempo de nuvens,
Certo como faca.

Voltei à casa despida do fino linho,
Estrelas me enfeitando os olhos
Pés nus e mãos vazias.
Nas palmas abertas teu riso longe
Falso, fraco, exangüe:
Findo o tempo da feitiçaria.

Stella Ramos