quinta-feira, julho 22, 2004


Quando ouço Maria Bethânia
é como se uma lâmina
muito afiada
me cortasse rente a pele
e tirasse minha casca
e soprasse meus caminhos de água
movesse os rios que
correm dentro de mim.
Quando ela diz de amor
essa água em mim
verte, cascata,
como quando leio um guardanapo
velho, amassado,
que guarda do tempo a declaração mais bonita, bêbada
que um dia alguém que me lê escreveu.
Quando essa mulher não entende
e faz cara de "que importa?"
não importa, não importa
o que vale nessa vida, nêgo,
é o que toca.

Lemuel Cintra