terça-feira, março 15, 2005


Despedida

No vácuo daquela noite quente
já perdida em memória
acompanhei Cécil pensando ir embora.

Ele me olhou fundo,
sensação rara em seus olhos.
Ali ficou imóvel, quieto de ensurdecer,
suas raízes no mundo.

Gritou força no olhar.
Queria sua figura em carimbo,
botar marca em minha retina,
ponto e vírgula na alma
risco feito em meus sonhos.
Queria se fixar.

Despedida.
Tirou do bolso uma das mãos,
em faca alisou meu rosto
meu decote, meu medo em medida.
Suspiro e se foi,
andou seu passo triste de ir embora.
Esperava barreira, ímã em volta,
meu grito em laço de boi.

Não gritei
nem corri seu nome na noite.
Tomei caminho da roça,
passos firmes de perda incerta,
com um giro me virei em corte.

De volta à floresta, guardei Cécil numa caixa.
Mudei seu nome, de seus olhos fiz brincos,
com sua voz história de fada.
Para o futuro talvez o visse semente,
quiçá borboleta dourada.


Stella Ramos